Durante a pesquisa a compreensão sobre a escrita de Glauco Velásquez foi remodelada diversas vezes. Cada bibliografia lida trazia uma nova ideia sobre o compositor. Em diversos trabalhos, como o de Hasselaar (1994) ou Bernard (2012) haviam bibliografias que ainda não haviam sido encontradas. Alguns textos de revistas publicadas no início do século nunca foram acessados, como um texto publicado por Adelina Alambary Luz na revista Wecco (1930), mas que fora muito citado e apareceu por exemplo no livro de José Maria Neves e Maria Cecília Ribas Carneiro (2002).
Apesar disso, o mesmo livro de Carneiro e Neves trouxe muitas pistas e ajudou a consolidar a compreensão do estilo na pesquisa recém finalizada sobre as sonatas de Glauco Velásquez. Uma coisa muito interessante que foi citada em outros textos deste blog foram trechos da carta de Glauco Velásquez a Rodrigues Barbosa. Tal documento possui muitos pontos interessantes sobre o que o próprio Velásquez entende de seu trabalho. Mais uma vez serão mostradas as palavras do compositor cujo trecho aqui assinalado trará alguns compositores citados por ele, o que nos diz muito sobre suas referências:
“Quem poderia negar que Beethoven e Wagner quando sentiram o irresistível ímpeto de exprimir musicalmente as paixões d’alma que não podem ser contidas na forma comum, romperam o estreito círculo das convenções e a evolução do espírito se manifestou?A última forma beethoviniana julgada pela maioria dos homens competentes de seu tempo como produção de um gênio decadente, não é hoje a que mais sentimos?Não é hoje que mais profundamente penetramos na superior beleza da obra wagneriana?Aquele imenso amor que une em vida e morte Tristão e Isolda foi contado por Wagner com moldes alheios. [...] O primeiro compositor que aplicou o termo foi Andrea Gabrielli em 1568. Nessa época a sonata consistia no emprego de harmonias cheias e sonoras e que serviam de introdução numa obra vocal religiosa. Conhecer como a desenvolveram e transformaram mais tarde (para citar poucos) Mozart, Scarlatti, Beethoven, e recentemente Cesar Franck, bastaria para provar a variabilidade de sua forma. Uma sonata composta de três ou quatro tempos completamente diversos entre si como forma ideias é comparável, ou para melhor dizer, é igual na fatura à sonata para piano e violino de Cesar Franck?” (CARNEIRO; NEVES, 2002, p.52).
Quando se fala do repertório circulante no Brasil daquela época, em conversas informais com colegas e professores, muita gente tem dúvida se Glauco Velásquez obtivera mesmo acesso à certas obras como as mais modernas (como Schoemberg antes de Pierrot Lunair). Durante a pesquisa concluiu-se que o acessos dos músicos à determinados repertórios era mais ágil do que se pensava. Enquanto hoje, acessamos o mainstream ou gravações dispostas no youtube e achamos tudo a maior maravilha do mundo, naquela época havia a impressão. As partituras eram o mainstream da época.
Além disso, Martins (1995) demonstrou que no início do século alguns compositores renomados passaram pelo Brasil atraídos por nossos compositores que aqui atuavam como Henrique Oswald. Martins relata que Saint Saëns esteve por aqui em 1899 e depois em 1904 e apresentou-se juntamente com Oswald. Também Darius Milhaud esteve no Brasil entre 1917 e 1918 como o publicado no Jornal do Commercio e Xavier Leroux em meados de 1918 conforme publicado no jornal Correio da Manhã e no Imparcial.
Assim, as trocas também puderam ocorrer através da interação entre os compositores. Sem falar que a maioria dos compositores brasileiros do período como Francisco Braga que estudara com André Messager e Henrique Oswald que passou grande parte da vida na Itália também foram veículo de transmissão da Europa para o Brasil. Sem contar a visão do período que estava totalmente voltada para o que se fazia no Velho mundo.
O início do século XX no Brasil foi um momento de grande circulação de música. Os registros da imprensa da época são prova de tais circunstâncias.
Referências
MARTINS, José Eduardo. Henrique Oswald: Músico de uma saga romântica. São Paulo. EDUSP. 1995.
HEITOR, Luiz. 150 anos de música no Brasil (1800 – 1950). Rio de Janeiro. Editora Fundação Biblioteca Nacional. 2016.
Sociedade Glauco Velásquez. Música. Rio de Janeiro: Correio da Manhã. 22/06/1918
COSTALLAT, Benjamim. Audição Glauco Velásquez. Chronica Musical... Rio de Janeiro: O Imparcial. 22/06/1918.
CARNEIRO, Maria Cecília Ribas; NEVES, José Maria, Glauco Velásquez, Coleção Academia Brasileira de Música, Vol.1, Rio de Janeiro: 2002, editora Enelivros.
LUZ, Adelina Alamabary. Notas biográficas sobre Glauco Velásquez. Rio de Janeiro: Revista Wecco, março de 1930 (p.17-20) e junho de 1930.
HASSELAAR, Silvia. Glauco Velásquez: Elementos Característicos de Produção Pianística e Catálogo Completo de suas obras. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. UFRJ, 1994.
BERNARD, Marie Stephanie Jeanne. Sonata 2 para violoncelo e piano (1912) de Glauco Velásquez: Estudo interpretativo e tratamento editorial da obra. Dissertação (Mestrado). UFMG, 2012.
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