Na pesquisa recém terminada "Aspectos estéticos e estilísticos das Sonatas de Glauco Velásquez" de minha autoria não houveram aprofundamentos na biografia do pai de Glauco Velásquez. A fisionomia deste homem estava então desconhecida. Enquanto decidia falar sobre ele e entender sua história, muitos dados interessantes vieram a tona.
Compreende-se que sua linhagem vem de mais de cem anos de uma tradição de músicos. Por isso, antes de falar sobre Eduardo propriamente devemos conhecer seus antecessores. Os Ribas foram conhecidos na Europa e no Brasil como uma vasta dinastia de músicos.
É possível afirmar, a partir disso, que o talento de Glauco Velásquez tão ovacionado foi herdado de seu tataravô, depois do avô, pai e tios junto com os de sua mãe que também fora musicista.
Por escolha aprofundei-me nas origens de Adelina Alambary pelo desejo de fazer justiça. No entanto, as fontes sobre Eduardo Ribas são ricas e repletas de imagens e relatos. Nesse ponto se fez a necessidade de tratar sobre a linhagem dos Ribas de modo geral. Encontrei fotos de várias fases de suas feições, assim como de seus irmãos e pai. Maria Cecília Ribas Carneiro (2002) já havia dado pistas sobre uma família tradicionalmente rica em personalidades do mundo da música.
A longa linhagem
José Mariano Ribas (1771 - 1835), era avô de Eduardo Medina Ribas, cuja atuação data do fim do século XVIII na década de 1790. Clarinetista, era Filho de Antônio Ribas e Rosa Camlong e viveu na Espanha. Em Madrid era mestre integrado do Regimento dos "Bastillos", uma espécie de banda militar.
Por volta de 1796 teve seu primeiro filho José Maria ribas; em 1799 teve seu segundo filho Juan Antonio Ribas; em 1803 teve Romão Gil Ribas; em 1814 nascia Antônio Lorenzo Ribas. Todos foram músicos.
José Mariano fora um músico promissor e ensinou flautim aos filhos. Foi mestre na Alemanha também em branda militar no Regimento de Linha "La Princesa" em 1866. Depois seguiu em missão de integrar-se no exército francês dirigido por Napoleão Bonaparte. Em sua carreira esteve em combate na Espanha, dessa vez contra Napoleão e posteriormente seguiu para a Suécia. Em 1808 foi prisioneiro de Napoleão na Espanha desertando para Portugal no ano seguinte. Fixa residência na cidade do Porto em Portugal e mantém sua carreira como regente de banda militar até falecer em 1835.
Quando se trata da prole dos Ribas a primeira geração deu origem a quatro filhos pelo que se sabe. Os registros foram encontrados mediante a atuação de cada um no meio musical europeu (português, espanhol e francês) dos anos de 1770.
O tio de Eduardo Medina Ribas
Embora José Mariano Ribas tenha uma família numerosa e seus filhos tenham sido músicos por influência direta do pai vale-nos ressaltar José Maria Ribas. Este músico que nasceu em 16/07/1896 nasceu na Espanha, mas viveu grande parte da vida em Portugal. Também seguiu os passos do pai e adotou a carreira militar, inicialmente tocou flautim, mas migrou para o clarinete mantendo ambos os instrumentos.
Foi a Inglaterra e lá tornou-se a primeira flauta da orquestra do Teatro Real e da Sociedade Filarmônica. Na década de 1850 migrou para Paris e Madrid com destino final da cidade do Porto. Até 1859 trabalhou na orquestra da Sociedade Filarmônica do Porto. Faleceu em 01/07/1861. Deixou uma vasta produção para flauta disponível na Biblioteca Nacional em Portugal.
O pai de Eduardo Medina Ribas
Pai de Eduardo Ribas, Antônio Ribas (1799 - 1869) nasceu na Espanha, mas viveu em Portugal na cidade do Porto chegando com seu pai José Mariano Ribas. Estudou flauta com o pai e depois violino e violoncelo. No entanto, o instrumento ao qual fez fama foi o violino. Assim, por volta de 1818 ocupa a posição de 1º violino e Chefe da Copisteria do Real Teatro de S. João.
Entre seus descendentes deixa uma família numerosa. Casa com Teresa Emília Medina gerando 7 filhos: João Victor, Eduardo, Hipólito, Teófilo, Florêncio, Carolina e Nicolau.
Envolve-se com questões políticas em 1820, mas segue a carreira de músico como regente do Teatro S. João em 1823. Compõe para o imperador D. Pedro IV a "Canção Constitucional de Villa-Nova de Gaya" para o juramento da Carta Constitucional. Após alistar-se nos "Batalhões Voluntários Constitucionais" em defesa das causas liberais em 1828 é obrigado a fugir por razões políticas para a Galiza. Entra como 1ª trompa na Catedral de San Tiago de Compostela, mas em 1830 parte para Madri também por razões políticas e passa a trabalhar na Orquestra do Teatro Real.
No mesmo ano, é nomeado o 1º professor de Violoncelo no “Real Conservatório de Música y Declamación de María Cristina”, que viria a se tornar o Real Conservatório de Musica de Madrid, onde escreveu um método.
Em 1835, por conta da morte de seu pai volta ao Porto e se torna regente do Teatro de S. João em 1835 perdurando até 1857. Escreveu música para peça de teatro, foi agente no Porto dos Pianos. Entre seus conhecimentos de instrumentista tocava Violino, Violoncelo, Trompa, Flauta, Oboé, Fagote, Clarinete e Clarim. Faleceu em 1869.
A partir do pai de Eduardo Medina Ribas, João Antônio Ribas, contamos a terceira geração. Pensando nas conexões com Glauco Velásquez, vale o aprofundamento somente com aqueles que possuem ligação com o compositor ítalo-brasileiro. Portanto, encontramos aqui seu avô e sua prole que foi bastante promissora.
O pai de Glauco Velásquez
Eduardo Medina Ribas nasceu na cidade do Porto em 1822. Iniciou seus estudos como trompista, tocou clarim, mas sua fama veio do canto. Fora um barítono conceituado em seu tempo, cujos estudos foram consolidados na Itália entre 1841 e 1842. Eduardo Medina Ribas estreou como cantor no Teatro São João do Porto e depois disso passou por outros teatros em Portugal e na Espanha.
Segundo Maria Cecília Ribas Carneiro (2002), os irmãos de Eduardo estiveram no Brasil cada um em um momento:
"o primeiro a vir ao Brasil foi João Vitor, pois em 1843 já era o mestre de canto do Corpo de Baile do Teatro São Pedro, teatro este inaugurado em 1826, após o incêndio do Teatro São João (CARNEIRO, 2002)".
Também Nicolau Media Ribas, seu irmão mais novo fez carreira por aqui por volta de 1847. Mas no caso de Eduardo Medina Ribas sua chegada se consolida em 1843, onde teve carreira promissora:
"Em 1857 participa na inauguração da Imperial Academia de Musica e Opera Nacional, do Rio de Janeiro, com uma Zarzuela traduzida por José de Feliciano Castilho. De 1857 a 1861, como integrante da Imperial Academia de Música e Opera Nacional (depois Opera Lírica Nacional), atuou em todos os espetáculos desta empresa, sempre com destaque. Foi o criador de importantes papeis em óperas de autores brasileiros, entre as quais A Noite de São João, de Elias Álvares Lobo, estreada no Teatro de São Pedro a 14 de Dezembro de 1860, e A Noite do Castelo, de Carlos Gomes, estreada a 4 de Setembro de 1861 no Teatro Lírico Fluminense (ex Teatro Provisório)". (Disponível em: https://sites.google.com/site/ribasmusicos2/Eduardo-Medina-Ribas) .
Em suas relações, casou com Enriqueta Carolina Edolo em 1858 viúva do irmão João Vitor Medina Ribas, com quem teve duas filhas: Elvira Edolo Ribas e Carolina Augusta Edolo Ribas. Além das filhas tinha uma enteada, filha de sua então esposa com seu falecido irmão Amélia Edolo de Carvalho. Em 1883, Eduardo Ribas se encontra viúvo tendo sob sua guarda suas filhas e a enteada. Nessa fase envolve-se com sua aluna de canto Adelina Alambary Luz. Dessa relação nasce seu filho Glauco Velásquez. Carneiro (2002), relata:
"Crescendo as filhas, Ribas resolvera se afastar do palco e se dedicar ao ensino do canto, não deixando, entretanto de fazer suas pequenas composições, sem grande expressão, para ele que se fizera tão conhecido, não foi difícil obter alunos e alunas na melhor roda social da corte (CARNEIRO, 2002, p.8)".
Embora Maria Cecília Ribas Carneiro (2002) apontasse que Eduardo possuía 70 anos quando se envolveu com Adelina, foram encontrados dados de que o cantor Eduardo Medina Ribas morreu aos 62 anos, em 08/06/1884, meses depois do nascimento de seu filho.
Da vasta prole destacamos José Vitor Medina Ribas e Eduardo Medina Ribas. Isso se deve porque o irmão mais velho de Eduardo falecera deixando mulher e filha. Esta viúva casa-se com Eduardo gerando mais duas filhas. Porém, em tempos de viuvez de sua esposa, quando já estava no Brasil, envolve-se com uma de suas alunas e gera seu filho Glauco Velásquez.
Assim, Eduardo deixa uma prole de quatro filhos, cuja relação de parentesco é de meios irmãos devido à mães diferentes e uma enteada, que de certo modo, não possuía ligação com o último dos filhos nascidos segundo relatos de Maria Cecília Ribas Carneiro (2002).
A personalidade e as feições
Pelo que se sabe Eduardo fora um cantor de bastante prestígio com relações marcantes no meio musical do Rio de Janeiro dos anos de 1850. Maria Cecília Ribas Carneiro (2002) relata como eram as feições de Eduardo, bem como traços de sua personalidade e ralações.
"Eduardo Medina Ribas era um homem de belos traços fisionômicos. Dava a impressão de um gentil homem da época. Elegante, ostentando, sempre que a temperatura permitia, suas luvas amarelo-canário. Bem falante, versado no francês, italiano e espanhol [...]. Fizera-se amigo de Arthur Napoleão - compositor e pianista - e também de Oscar Guanabarino, [...] e do romancista Joaquim Manoel Macedo, entre outros (CARNEIRO, 2002, p.8)".
Maria Cecília Ribas Carneiro (2002), enfatiza o temperamento sedutor de Eduardo Ribas. Enquanto cantor, a autora relata que Eduardo se destacava por sua interpretação. Seus talentos de cantor aliados aos de sedutor o levaram pela Europa a fora e posteriormente para o Brasil. Enquanto trompista destacava-se por um som límpido conquistando as graças do Imperador.
De maneira surpreendente o árvore genealógica de Glauco Velásquez se apresentou enquanto uma riqueza de personalidades importantes na meio musical europeu e no Brasil. Seu talento e suas conexões acabam por ter sido pontos colaboradores para que se fizesse conhecido e estimado enquanto compositor que contribuiu para a música erudita brasileira.
Referências
CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. NEVES, José Maria. Glauco Velásquez. Coleção Academia Brasileira de Música. Vol.1 Rio de Janeiro: Enelivros. 2002
Ribas: uma Dinastia de Músicos do Porto no século XIX. Disponível em: https://sites.google.com/site/ribasmusicos2/
Fotografia de Glauco Velásquez. HEITOR, Luiz. 150 Anos de Música no Brasil. (1800 - 1950). 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Fundação Biblioteca Nacional. 2016.
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