Trato de contemporaneidade porque em minhas pesquisas cheguei a conclusão que a música de Glauco Velásquez foi, apesar de muitas controvérsias como a moda do poema sinfônico e a conexão política dessa música no período da Primeira República (PEREIRA, 2018), a cara e o pensamento de seu tempo. Ultrapassar os limites das chamadas por Volpe (2000) de formas consagradas como a sonata eram parte da concepção de Glauco Velásquez. O próprio afirmou sua pré-disposição à inovações:
"A forma dos meus trios e fantasias depende unicamente dos meios que acho mais naturais como expressão".
Mais a frente na carta, inúmeras vezes citada nos textos por aqui, Glauco Velásquez refuta a questão da imitação dos "grandes mestres da forma":
"Sob a direção de um professor artista [Francisco Braga] e criterioso do estudo da composição limitado ao conhecimento das obras que nos deixaram grandes mestres, não para lhes copiar os moldes, mas para conhecer como desenvolveram as suas ideias, penetrar no sofrer, no sentir no amor daqueles gênios, eu penso que resultaria o mais belo estímulo para os novos que surgem e o abandono do que é fictício, convencional e pequeno. Cada um encontraria melhor o caminho na luminosa estrada que outros abriram" (CARNEIRO; NEVES, 2002, p.52).
O ato de justificar em carta, o tão reclamado pela imprensa, "abandono dos moldes clássicos" referencia às inúmeras queixas impressas na época oposta a seu modo de compor. (ver posts anteriores). J. J. de Moraes (1977), na ocasião do lançamento das gravações de Clara Sverner de obras para piano de Glauco Velásquez definiu muito bem lugar no espaço/tempo de Velásquez:
"Dez anos mais novo que Arnold Schoemberg e Charles Ives, um ano mais velho que Alban Berg e Edgard Varese [...]. Suas partituras nasceram ao mesmo tempo que as últimas assinadas por Debussy e Mahler e as primeiras realizadas por Bartok e Webern" (MORAES, O Estado de São Paulo, 23/10/1977).
As palavras de J. J. de Moraes (1977) englobam Glauco Velásquez entre os compositores cujo trabalho são muito próximos e até paralelos no período. No entanto, esta iniciativa do musicólogo trouxe inspiração para a adição de mais compositores que podem ser englobados a esta linha do tempo. Assim, foram colocados os compositores citados por Glauco Velásquez vistos também como suas principais influências e aqueles que estiveram no Brasil durante sua vida:
Apesar de ter morrido precocemente, em 1914, Glauco Velásquez enquanto compositor demonstrou em suas sonatas estar muito conectado com a mentalidade de compositores contemporâneos europeus. Muitos aspectos presentes em suas obras mostram esta confirmação. Seu conhecimento de determinados compositores, citados por ele mesmo ou por pesquisadores, demonstram seu interesse pela música de seu tempo .
Referências
CARNEIRO, Maria Cecília Ribas; NEVES, José Maria, Glauco Velásquez, Coleção Academia Brasileira de Música, Vol.1, Rio de Janeiro: 2002, editora Enelivros.
HEITOR, Luiz. 150 anos de música no Brasil (1800 – 1950). Rio de Janeiro. Editora Fundação Biblioteca Nacional. 2016.
MARTINS, José Eduardo. Henrique Oswald: Músico de uma saga romântica. São Paulo. EDUSP. 1995.
MORAES, J. J. de. A redescoberta de Glauco Velásquez. O Estado de São Paulo. N.54. Ano 2. Pg.7. 23/10/1977.
PEREIRA, Avelino Romero. Leopoldo Miguéz, um prometeu na República. Revista Brasileira de Música. Rio de Janeiro. UFRJ , v. 31, n. 1, p. 141-161, Jan./Jun. 2018.
VELÀSQUEZ, Glauco. Manuscritos da Sonata I. Méier: 1910. Arquivo da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ.
VOLPE, Maria Alice. Algumas Considerações sobre o conceito de Romantismo musical no Brasil. Revista Quadrimestral da Academia Brasileira de Música: Brasiliana. n.5 maio de 2000.
_________________. Indianismo and landscape in the Brazilian age of progress: art music from Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s - 1930s. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ. 2001.
Foto: Glauco Velásquez. A Época. 19/07/1913.
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