No início da pesquisa chamou a atenção o pouco conhecimento sobre Glauco Velásquez e sua obra. Pouco se sabia sobre ele. Era 2016 e as buscas sobre música de câmara, além da curiosidade que traçaram uma pesquisa em seu encalço, mostraram um compositor rodeado de personalidades importantes. Depois de passar por arquivos atrás de seus manuscritos e outros documentos que mostravam sua vida, como já citado em textos anteriores neste blog, muitos textos críticos de jornais sobre ele foram encontrados.
Vale destacar que a pesquisa mostrou que Glauco Velásquez foi famoso em seu tempo de atuação. Ainda que uma carreira breve, Glauco Velásquez chamou a atenção tanto quanto Francisco Braga chamou por seus poemas sinfônicos e pela grande produção de hinos ou pela vasta produção de música de câmara destacada até hoje de Henrique Oswald (HEITOR, 2016). Os jornais da época destacaram a grande influência que Glauco Velásquez possuía. Mas como um rapaz órfão e supostamente sem conexões com o Brasil, como falou Mário de Andrade (1933), alcançou tanto sucesso?
Entre vários motivos enumera-se um dos mais interessantes: Adelina Alambary Luz. Já falada em textos anteriores sobre sua origem e ligação com a burguesia carioca da transição entre o século XIX e o XX, Adelina foi vista através dos relatos de José Maria Neves (2002) e Luiz Heitor Correa de Azevedo (1956 e 2ª edição de 2016), por exemplo.
Adelina Alambary Luz é, devo observar, um dos personagens mais curiosos existentes nas relações de Glauco Velásquez.
Luiz Heitor (2016) apontou o grande coração e o quão respeitável fora Adelina Alambary. Maria Cecília Ribas Carneiro (2002), que mencionou as memórias de eu pai que teve contato com Adelina, apontou a inteligência e seu vasto conhecimento artístico com o piano e canto. Era uma mulher de requinte como aquelas que pertenciam a elite do Rio de Janeiro no século XIX. Foi uma mulher de boas relações e isso recaiu sobre seu filho, Glauco Velásquez, cuja existência foi escondida ao máximo (CARNEIRO; NEVES, 2002).
Adelina Alambary Luz incentivou Glauco Velásquez desde seus primeiros passos no Brasil. Adotou-o e o levava para todos os lados. Apresentava-o a todos enquanto talento musical. Assim foi quando o compositor entrou no Instituto Nacional de Música. Depois foi quando houve seu primeiro concerto. Tornou-se copista e arquivista de suas obras (CARNEIRO; NEVES, 2002).
Quando Glauco Velásquez morreu Adelina e um grande séquito de amigos e intérpretes estiveram em seu leito (HEITOR, 2016). Luciano Gallet em trecho de uma carta a Mário de Andrade em meados de 1930 descreveu:
“Em janeiro de 1914, Glauco fica doente, irremediavelmente, até 21 de junho, quando morreu. [...] Durante a sua doença, a sua casa na São Francisco Xavier tornara-se um templo. Glauco, em seu leito branco, aniquilado [...]. Ao seu redor figuras máximas: Nepomuceno, Nascimento seu mestre e amigo até no sacrifício, Oswald, Braga, Barbosa, a roda piedosa de seus intérpretes Paulina, Stella Parodi, Nascimento, Gomes e outros. [...] E por último, pediu a todos que continuassem a sua música, que não a deixassem morrer” (GALLET apud CANEIRO; NEVES, 2002, p.124-125).
As imagens dispostas dos personagens citados até então são uma soma de fotos dispostas tando no livro de Luiz Heitor (2016), quanto no livro de Carneiro e Neves (2002) e no artigo de Volpe (2007). Tantas outras personalidades são bastante citadas, mas não houve imagens encontradas, pelo menos não durante esta pesquisa. De outro modo, dar rostos a muitos dos personagens relatados por Gallet faz com que a morte de Glauco Velásquez fiquei ainda mais dramática.
O circulo social de Glauco Velásquez se mostrou cheio de personalidade importantes para a história da música erudita brasileira no início do século XX. É notado que mutos deles, Nepomuceno, Oswald, Braga atuaram desde o século anterior. Também Paulina d'Ambrósio, que em meados do século XX viria a ser segundo Amorim (2016) colaboradora de H. Villa-Lobos, foi uma importante intérprete do violino e uma das responsáveis por propagar a técnica da escola franco-belga no Brasil. Além de Paulina, deve-se destacar a importância de F. Nascimento enquanto professor do Instituto e também um importante colaborador para a música de Glauco Velásquez (HEITOR, 2016).
Referências
AMORIM, Évertom Rodrigo. Sonata Op. 61, “Delírio” para Violino e Piano de Glauco Velásquez: Processos para construção de interpretação. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, USP, 2016.
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Música e Músicos do Brasil. Rio de Janeiro. Editora da Casa. 1950.
HEITOR, Luiz. 150 anos de música no Brasil (1800 – 1950). 2ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Fundação Biblioteca Nacional. 2016.
CARNEIRO, Maria Cecília Ribas; NEVES, José Maria, Glauco Velásquez, Coleção Academia Brasileira de Música, Vol.1, Rio de Janeiro: 2002, editora Enelivros.
Obituário. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio. 23/06/1914.
VOLPE, Maria Alice. José Rodrigues Barbosa: questões identitárias na crítica musical. Rio de Janeiro: Revista Brasiliana. n.25. Junho de 2007.
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