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Foto do escritorAgata Christie

A polaridade liderada por Oscar Guanabarino e Rodrigues Barbosa


Colocar as lentes sobre a história de Glauco Velásquez mostra um elemento tão importante quanto suas obras, a polaridade a seu redor. Reorganizando a pasta de documentos remanescentes sobre a pesquisa recentemente reencontrei detalhes sobre um dos críticos mais presentes na trajetória de Glauco Velásquez: Oscar Guanabarino. Guanabarino me fez lembrar também relatos da polaridade gerada entre este crítico e Rodrigues Barbosa, a outra ponta da polaridade, cujos princípios se aproximaram com grande estima de Glauco Velásquez.

Desse modo, vale retratar o que foi encontrado a respeito de ambos os críticos e apontar seu papel, cada um do seu lado, na trajetória de Glauco Velásquez.


Oscar Guanabarino


Oscar Guanabarino foi um crítico muito importante atuante entre o fim do século XIX e a década de 1930 no século XX. Segundo Maria Cecília Ribas Carneiro (2002), Guanabarino era visto como um crítico rigoroso e defensor de opiniões conservadoras. Suas observações irônicas e ferrenhas recaíram sobre aqueles que, em meio as transformações musicais da transição entre séculos, apreciavam e estavam imersos em visões progressistas ligadas à escola alemã e francesa.

Embora destilasse críticas rigorosas, José Maria Neves (2002), destaca que Guanabarino fez as observações mais interessantes do ponto de vista musical quando reconheceu várias particularidades da música de Glauco Velásquez. O cromatismo, as relações temáticas de pequenos fragmentos, a expressividade sentida e triste, foram algumas características apontadas pelo crítico.

Neves(2002)aponta também que, anos mais tarde, quando Villa-Lobos já se consolidara e era conhecido no momento da Semana de Arte Moderna (1922), que Guanabarino não teve a mesma misericórdia do compositor que viria a se tornar ícone para o Brasil. O crítico nega à Villa-Lobos apontamentos sobre sua qualidade musical e o aponta de maneira irônica como se “fosse fruto do mais infeliz acaso”.

Em sua trajetória, segundo um relatório do Instituto do Piano Brasileiro (2015), Guanabarino foi pianista concertista aos 15 anos. Enquanto crítico atuou primeiro no jornal O Paiz e depois no Jornal do Commercio. No texto do Instituto do Piano Brasileiro consta:

"Suas críticas eram ácidas e sarcásticas, atacando nomes como Alberto Nepomuceno e depois Villa-Lobos, sendo opositor da Semana de Arte moderna de 1922 e ao uso de folclore [ou melodias provindas da cultura popular] na música".

Sua atuação como crítico foi tão influente que, ainda nesse mesmo texto mencionado, consta que Guanabarino "teve um papel importante na definição do hino nacional brasileiro em 1890". O crítico publicou um artigo no jornal O Paiz com argumentos que colaboravam com a escolha do hino de Francisco Manuel da Silva.

Em paralelo com a atuação como crítico foi também professor de piano e teve alunos como Eunice Catunda (1915-1990).


José Rodrigues Barbosa


Crítico que já apareceu em posts anteriores devido a sua colaboração em diversos aspectos da obra de Glauco Velásquez, Rodrigues Barbosa foi parte integrada na citação de uma carta que Glauco Velásquez escrevera com intuito de explicar suas obras.

Rodrigues Barbosa foi um crítico de viés progressista que atuou desde o fim da década de 1890 no Jornal do Commercio e em outros jornais até a década de 1930. Também envolveu-se na fundação do Instituto Nacional de Música, que antes no período do Império fora Conservatório Imperial de Música. A partir de suas convicções conectadas com o que se fazia de mais moderno relacionado á música, Rodrigues Barbosa junto com Francisco Braga, Frederico Nascimento e Adelina Alambary Luz foi um dos apoiadores da música de Glauco Velásquez.

Em suas críticas sobre a obra de Glauco Velásquez sempre fez questão de enfatizar as qualidades modernas e prodigiosas do compositor. Mais tarde, quando Glauco Velásquez morreu, Rodrigues Barbosa foi um dos membros da Sociedade fundada em seu nome.

Em sua trajetória o crítico sempre esteve do lado de Glauco Velásquez daqueles que se interessaram pelo que havia de novo na música erudita do início do século XX. É relatado por José Maria Neves (2002), como um dos maiores incentivadores da música de Glauco Velásquez.


A linguagem de ambos


Já se sabe quem Guanabarino era sarcástico e irônico em seus textos. Por outro lado, destaca-se Rodrigues Barbosa que em suas críticas, pelo menos a Glauco Velásquez, dedica louros e ovações. A seguir serão destacados dois textos retirados de jornais e revistas como exemplo das opiniões de ambos sobre a música que se fazia aquele tempo.


  • Revista Americana - 1 de agosto de 1915.

Guanabarino começa narrando a questão da genialidade de Glauco Velásquez. Coloca os olhos sobre o temperamento e a dramaticidade que ele coloca em sua linguagem escrita.

Levanta a questão da idolatria de seus amigos. Oscar alega que Velásquez ainda estava em processo de maturação, e que entregar-lhe o título de gênio é exagero. Segue a dizer que as tendências a modernidade do compositor “beiram ao esquisito”. Mais a diante, endossando a crítica, alega que a música de Velásquez é um tanto mental, e que “provinha de um cérebro doentio”. Diz ainda, que os estudos musicais do compositor não foram suficientes, se comparados aos de seus mestres.

A crítica segue com alegações de que aqueles que não o compreenderam enquanto artista, apenas endossavam o sentimento de vê-lo como um compositor que necessitava de maturação. Mais a diante, depois de destilar considerações que não são tão tragáveis, Guanabarino lista as obras tocadas no concerto ao qual esteve presente, e tirou tais conclusões tão ferrenhas. Destaca também os intérpretes das obras.

Termina o texto galgando características das obras executadas como o Quarteto para cordas, em que os movimentos são delineados por Oscar com características específicas. E por fim alega reconhecer que o gênero de câmara requer mais precisão na ponta da pena para se escrever com precisão e beleza.


  • Jornal do Commercio, 12 de julho de 1912

O autor inicia o texto descrevendo o grande valor de Velásquez como compositor. Coloca-o como uma personalidade que reorienta “tendências absolutamente modernas , marcando uma diretriz inteiramente nova”.

Ao longo do texto discorre sobre todos os grandes mestres da música que representaram mudanças marcantes ao longo dos tempos. Passa pelo wagnerianismo, dirige-se a escola francesa de Saint-Saens e Cesar Franck, e chega na escola de Viena e em Schoemberg. A partir disso, tenta eleger pontos de contato entre Velásquez e o mestre alemão e usa o Tratado de Harmonia deste compositor para ilustrar tal conexão entre compositores tão diferentes.

O autor defende a condição de inovador que muitos deram a Velásquez citando as palavras de seu “Tratado de Harmonia, que Schoemberg acaba de publicar, lemos o capítulo em que ele trata de processos do estilo moderno”. A partir desta frase segue-se as palavras de Schoemberg ao dizer que:

“Como não recomendo essas teorias novas, não me cumpre discutir-lhes aqui o valor. Aquele que, por si mesmo, chegar até elas, não tem necessidade de guia”.

Barbosa ainda explica a função dos tratados:

“Os tratados nos dão habitualmente um sistema musical que corresponde aos dados da experiência e à noção do belo, prescrevem e também proíbem: apresentam um conjunto de composições possíveis que afastam certo numero delas sob o nome de exceções”.

Utiliza nomes como os de Haydn, Mozart, Beethoven e Habeneck, para dizer que todos tem em comum a luta contra aqueles que não aceitavam seu trabalho, e taxavam-no de estranho. Segue utilizando trecho da fala do próprio Velásquez que se defende do abandono das formas tradicionais:

“Eu mesmo não escrevo para as massas, mas sim para um pequeno numero que comunga na vontade, nos estudos, nas tendências e nos sentimentos”.

Sempre que possível Barbosa tece elogios a Glauco Velásquez. Assim, muitos artigos são mostrados ao longo da década de 1910 com sua perspectiva que muito defende o que há de novo em Glauco Velásquez. O artigo termina citando as obras e descrevendo-as junto a seus intérpretes.


Referências


Carneiro, Maria Cecília Ribas. NEVES, José Maria Neves. Glauco Velásquez. Rio de Janeiro: Enelivros. 2002.

GUANABARINO, Oscar. A Música. Revista Americana. 01/08/1915.

BARBOSA, José Rodrigues. Glauco Velásquez. Coluna Theatros & Musica. Jornal do Commercio. 12/07/1912.

1º Relatório do Instituto do Piano Brasileiro. 04/11/1915. Disponível em: http://institutopianobrasileiro.com.br/

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