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Foto do escritorAgata Christie

Críticas sobre o primeiro concerto de Glauco Velásquez



1911 foi um ano que abriu os olhos de todos para as obras de Glauco Velásquez. Prova disso são as críticas publicadas a respeito de seu primeiro concerto. Periódicos como Jornal do Commercio, A Notícia e Correio da Manhã publicaram suas considerações a respeito das primeiras audições de obras de Glauco Velásquez.

Curiosamente tais repostagens mostram relatos de como era o pensamento musical da época nos salões e mostra que no Brasil refletiu a tradição europeia de concertos de música instrumental nas casas das pessoas da alta sociedade carioca.


Considerações no jornal A Notícia


O primeiro texto publicado no jornal A Notícia na Coluna Notas de Musica sob o título Um compositor brasileiro: Glauco Velásquez em 21 e 22 de Setembro de 1911 o crítico Luis de Castro defende suas opiniões.

Trata-se de uma crítica que inicialmente há muitas impressões a respeito dos admiradores deste novo compositor. Ao mesmo tempo, a sensibilidade do crítico mostra pontos interessantes a serem vistos na obra que se apresentava ao público naquele momento.

O autor disserta a respeito do “entusiasmo de Rodrigues Barbosa e Roberto Gomes” naquele concerto. E mais a diante, Frederico Nascimento aparece como uma terceira figura importante que cultiva alta estima para com o talento do compositor Glauco Velásquez. São referenciados os cuidados do violoncelista e professor do Instituto Nacional de Música em fazer propaganda das obras deste compositor. O autor alega:


o “músico [Frederico Nascimento], de mais sólida orientação artística entusiasma-se por essas [estreadas] composições”.

Em relação as obras apresentadas naquele concerto, o autor descreve:


[Tais composições possuem] “harmonização muito interessante, (...) e muito curiosa, e na sua melodia”, característica marcante de Velásquez, o crítico descreve que ele“afasta-se dos moldes conhecidos”.

O autor segue num questionamento sobre o amadurecimento do talento do compositor. A diante, existe uma colocação das obras como “prolixas”e isso, como sugere, deve ser resultado da sua falta de amadurecimento.

Em relação às melodias para canto, o crítico diz que foram melhor assimiladas, mas, por outro lado, os acompanhamentos são menos interessantes. Compara os acompanhamentos escritos por Glauco Velásquez a os de Nepomuceno. O crítico alega que Nepomuceno deveria ser seguido por Velásquez como exemplo para tornar sua escrita para piano mais interessante.

Na continuidade do texto há comentários que destacam o caráter triste dos talentos de Glauco e afirma ainda:

“a tristeza é, com efeito nota predominante de suas composições”.

Destaca também a preferência de Velásquez por andamentos lentos e no último parágrafo o autor lista os nomes dos intérpretes das obras do concerto em questão.

Considerações no jornal Correio da Manhã


O texto sobre o primeiro concerto publicado no jornal Correio da Manhã foi redigido por Enrico Borgongino sob o título de Glauco Velásquez e publicado em 21 de Setembro de 1911.

Dentre vários floreios, fazendo alusão a mitologia grega e a um pintor de sobrenome homônimo, o crítico destaca as potencialidades da escrita de Glauco Velásquez colocando-o no patamar de um gênio.

É destacado a “inconfundibilidade” da música do compositor e apontadas suas prováveis influências como Chopin ou Mendelssohn, Beethoven ou Schumann e Brahms ou Debussy. O crítico, apesar dos apontamentos que enumeram influências aponta a obra de Glauco Velásquez possui somente suas próprias particularidades. Como característica marcante afirma:

a notável presença de um certo “chromatismo que deu a Wagner chave de seu sistema”.

Nas últimas considerações existem as descrições das obras que foram ouvidas naquela ocasião, o que demonstra um certo entendimento musical de Enrico Borgongino. Tal repertório apresentado naquela ocasião mostra as especialidades musicais de Glauco Velásquez. Suas escolhas em relação à formações instrumentais giram em torno da música de câmara e de canções: Trio para piano, violino e violoncelo; sonata: “Gavota, Sarabanda, Minueto”, e uma “Romanza”, para piano e violoncelo, “Reverie”, e “Páginas descritivas”, para piano, violino, além de cinco peças para canto.

Considerações no Jornal do Commercio


Um dos jornais mais importantes presentes como complemento na bibliografia de Glauco Velásquez, este jornal fora o que outrora cedeu seu salão para os concertos da futura sociedade que carregaria o nome de Glauco Velásquez.

Maria Alice Volpe (2007) afirma que José Rodrigues Barbosa foi responsável pela coluna Theatros e Musica no Jornal do Commercio de 1893 até a década de 1930. Portanto, apesar de não estar publicado junto ao texto da crítica o nome do autor, os apontamentos sobre o primeiro cincerto de Glauco Velásquez publicados em 30 de julho de 1911 no Jornal do Commercio são de Rodrigues Barbosa.

Uma crítica bastante citada por diversos musicólogos em trabalhos acadêmicos sobre Glauco Velásquez, este é um texto sobre o concerto de estreia de suas obras. Rodrigues Barbosa descreve como foi saber da existência do novo compositor que surgia.

Segue descrevendo o concerto, as obras que nele foram tocadas e, além disso, discorre sobre suas impressões. Neste texto está uma das citações mais famosas do crítico a qual ressaltam as características mais marcantes das obras de Velásquez:


“A sua obra é absolutamente nova; ele não compõe de acordo com determinados moldes (...), o seu estilo, a sua forma nada têm em comum com as escolas conhecidas (...)”.

Esta crítica, torna clara a conclusão que Rodrigues Barbosa era, de fato, defensor da obra de Velásquez fazendo parte do seu time de admiradores. Barbosa também foi um dos membro da Sociedade Glauco Velásquez depois da morte do compositor. É também possível deduzir, com base em diversos dados, que o uso do salão do Jornal do Commercio como local de apresentação de tal sociedade se deva em relação a conexão de Glauco Velásquez e Adelina Alambary Luz com Barbosa.

Depois da morte de Glauco Velásquez, em 1914, Barbosa defendeu com bastante veemência as obras de Glauco Velásquez e foi um de seus importantes apoiadores.

Referências


CASTRO, Luis de. Notas e Musica - Um compositor brasileiro: Glauco Velásquez. A Noticia. 21 e 22/09/1911.

BORGONGINO, Enrico. Glauco Velásquez. Correio da Manhã. 21/09/1911.

BARBOSA, José Rodrigues. Theatros & Musica - Glauco Velásquez. Jornal do Commercio. 30/07/1911.

VOLPE, Maria Alice. José Rodrigues Barbosa: questões identitárias na crítica musical. Rio de Janeiro: Revista Brasiliana. n.25. Junho de 2007.

CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. NEVES, José MAria. Glauco Velásquez. Rio de Janeiro: Editora Enelivros. 2002.

HEITOR, Luis. 150 anos de Musica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação Biblioteca Nacional. 2ª Edição. 2016.







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