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Foto do escritorAgata Christie

Tuberculose: o mal que levou Glauco Velásquez


A história de Glauco Velásquez contada nos primeiros textos deste blog chama a atenção por sua dramaticidade. Inclusive é tão dramática que seria digna de roteiro de filme ou série de streaming. Apesar disso, era comum no início do século XX as pessoas morrerem cedo, visto que muitas doenças que hoje são consideradas curadas ou possuem tratamento por conta do avanço da tecnologia, não possuíam tratamento e menos ainda cura.

A tuberculose foi naquele tempo o chamado mal que assolava os jovens como elemento complementar para a tristeza que foi moda recorrente naquele período. Pergunta-se: o que Glauco Velásquez tem a ver com a tristeza ou com a tuberculose? Foi esta doença que o matou de modo prematuro e foi parte do roteiro de sua vida. E a tristeza foi característica expressa em suas obras segundo críticos como Oscar Guanabarino (1913), Luis de Castro (1911) ou Rodrigues Barbosa (1911). Isso pode ser facilmente comprovado auditivamente.


Especulações sobre a saúde de Glauco Velásquez


Livros de história da música brasileira que tratam, em maioria, exclusivamente de música erudita brasileira, possuem informações biográficas sobre Glauco Velásquez. De outro modo, também apresentam outros pontos relacionados a visão que se tinha sobre ele no período, além de relacioná-lo com o ambiente musical daquele período.

Nesse sentido, apesar de não saber a exata verdade ou não encontrar a confirmação de seu real estado de saúde desde a chegada ao Brasil, os autores demonstram suas visões a esse respeito. Sua condição frágil foi abordada em vários momentos da historiografia.

Baudelaire e a relação com a melancolia ou a própria tristeza foram apontados por F. Acquarone (1948), por exemplo. Este autor num relato que mais sugere um boato do que uma verdade, afirma:

"Seu organismo fraco desde a meninice, minado por atroz tuberculose, determinou-lhe, sem dúvida, os complexos da profunda melancolia, de quase "marasmo intelectual", como diria Baudelaire".

Maria Cecília Ribas Carneiro (2002), contradiz as afirmações de F. Acquarone e afirma que a doença começa a se apossar de Glauco Velásquez em 1912. Segundo Carneiro os ares do campo foram recomendados como tratamento para Glauco Velásquez quando a doença fora diagnosticada. Através desses fatos é possível afirmar que Glauco Velásquez possa ter convivido com a doença por dois anos até que morreu em 1914.


O apelo de salvação


Em 08 de dezembro de 1912 no Jornal do Commercio uma matéria de jornal que remete a solicitação ao Congresso Nacional para que Glauco Velásquez vá se aperfeiçoar na Europa. Seguem-se os louros ao compositor, que neste texto é considerado “fenômeno intelectual”, e que se revela como “compositor de admirável fecundidade”. Fazem-se de seus atributos para que se compadeçam e Velásquez vá ao velho continente. Diante de diversos estudos sobre o compositor sabe-se que esses esforços de diversas personalidades da época de nada adiantaram e o tão aclamado compositor nunca foi estudar fora do Brasil.

Sobre esta mesma ocasião, Bruno Kiefer (1976), no livro História da Música Brasileira afirma que em consequência de chamar a atenção de vários compositores renomados no Rio de Janeiro como Alberto Nepomuceno, Francisco Braga e Henrique Oswald por exemplo, "decidiram enviar ao Congresso Nacional um pedido de auxílio para que o jovem compositor pudesse viajar para a Europa".

Luiz Heitor Correia de Azevedo (1956), afirma que os aliados de Glauco Velásquez gostariam que "o jovem compositor fosse à Europa a fim de 'fazer ouvir suas composições já em grande número". Azevedo então explica que as razões eram na realidade outras:

"Esse apelo tinha alguma coisas de dramático; tratava-se, na realidade, de salvar a vida do compositor, permitindo-lhe uma viagem de cura à Europa, capaz de atalhar o mal que lhe minava os pulmões. O internamento num sanatório suíço era, naqueles tempos, o porto de salvação, a que só os privilegiados da fortuna poderiam aspirar. Teria, talvez, restituído a Glauco Velásquez a saúde e a alegria de viver. Mas o Congresso Nacional não se comoveu... E o compositor marchou para a morte".

A morte e o drama


A fragilidade de Glauco Velásquez o levou junto com a tuberculose. Uma reportagem longa em sua homenagem relata a ausência de sucesso quanto ao pedido de seus aliados, seja por sua música ou pela sua doença que avançava.

Este artigo foi publicado no Jornal do Commercio no dia seguinte da morte de Glauco Velásquez, em 22 de junho de 1914 é um texto extenso dedica-se louros ao compositor. Num certo ponto o autor relembra os concertos que lhe foram ofertados no Salão do Jornal do Commercio, apresentando a lista de obras que foram tocadas nestes concertos.

Relembra o quanto o compositor, apesar de ter admiradores da mais alta estima musical, não agradou a todos os que o ouviram. Segue até alguns parágrafos a frente tecendo críticas a respeito desse público que não se agradou pelas sonoridades de Glauco Velásquez, acusando-os de ser “escravizados aos grilhões da forma convencional”.

Destaca também, o pedido de seus amigos e patronos a solicitar-lhe recursos para, como o autor diz, se fazer ouvir na Europa. Trecho ao qual é colocada por extenso a carta da solicitação ao congresso nacional. Relembra também, suas obras publicadas na grande enciclopédia Os Grandes Mestres do Órgão que ocupam o seu 6º volume.

Acompanha uma pequena biografia do compositor traçando os lugares onde Glauco Velásquez estudou música e pautou os seus principais tutores. Termina o texto lamentando seu fim prematuro, que segundo o autor, foi no início da carreira.


Diante de tanto drama, a tuberculose enquanto doença levou Glauco Velásquez muito cedo, segundo vários críticos e historiadores da música. Foi um ingrediente que complementou, junto com as tendências da poesia simbolista em voga na época, para um pano de fundo triste e melancólico retratado em suas obras. E diga-se de passagem, falando assim parece que estamos apontando pinturas a óleo sobre tela. No entanto, é assim que devem ser vistas as criações musicais de Glauco Velásquez, como o retrato da personalidade e dos sentimentos que nele abundavam.


Referências


ACQUARONE, F. História da Música Brasileira. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1948.

AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 Anos de Música no Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional. 2016.

CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. NEVES, José Maria. Glauco Velásquez. São Paulo: Editora Enelivros. Vol.1. Coleção Academia Brasileira de Música. 2002.

Glauco Velásquez, mantido pelo Estado vae aperfeiçoar-se na Europa. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro. 08/12/1912,

Glauco Velásquez. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro. 22/06/1914.



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